Comer é um dos atos mais simples e universais do ser humano. Ao mesmo tempo, um dos atos mais complexos.
Por trás de cada refeição, há escolhas, memórias, hábitos e emoções. Comer não é apenas nutrir o corpo: é também expressar o que sentimos, acalmar o que dói ou celebrar o que importa.
Quando o comer vai além da fome
Quantas vezes dizes “preciso de um doce” quando, na verdade, precisas de conforto? Ou abres o frigorífico, não por fome, mas por tédio, tristeza ou ansiedade?
A relação entre emoções e alimentação é profunda. Comer pode ser uma forma de aliviar o stress, preencher o vazio ou encontrar prazer num dia difícil.
Embora isso seja humano e natural, torna-se problemático quando a comida passa a ser a única resposta emocional disponível.
Reconhecer que comer emocionalmente não é sinal de fraqueza é o primeiro passo para mudar esta realidade. Comer é, muitas vezes, um mecanismo de regulação emocional. Portanto, mais do que te culpares por procurares conforto na comida, o importante é compreenderes o que o teu corpo e mente te estão – realmente – a pedir.
O que acontece no corpo quando comes
Quando comes algo que te dá prazer, o cérebro liberta dopamina e serotonina, neurotransmissores ligados ao bem-estar e à recompensa.
É por isso que um chocolate pode aliviar o mau humor ou um prato reconfortante pode acalmar a tua ansiedade.
A longo prazo, esse alívio momentâneo pode transformar-se num padrão automático, em que a comida é usada para gerir emoções difíceis, mas sem resolver o que está na base delas.
Por isso, aprender a distinguir fome física de fome emocional é um dos pilares de uma relação mais saudável com a comida.
Como começar a comer com mais consciência?
Pára e observa
Antes de comer, pergunta-te: “Estou com fome ou preciso de outra coisa?”
Às vezes, o corpo pede comida, mas a mente pede pausa, descanso ou afeto.
Cria momentos de presença
Come sem distrações. Observa o cheiro, a textura, o sabor. Uma refeição com atenção plena ajuda-te a perceber o ponto de saciedade e a desfrutar mais da refeição.
Cuida das tuas emoções fora do prato
Procura outras formas de aliviar o stress ou o cansaço: caminhar, escrever, procurar apoio psicológico, meditar ou conversar com alguém de confiança. Quanto mais recursos tiveres, menos precisarás de usar a comida como válvula de escape. Portanto, não se trata de proibir, mas diversificares as tuas ferramentas de apoio.
Aceita os dias “menos conscientes”
Comer sem culpa é também um ato de saúde emocional. A restrição e a culpa só alimentam o ciclo de ansiedade, que é tudo o que não precisas.
Comer é um ato de vida, não apenas de sobrevivência.
Entre o prato e a emoção, existe um espaço de autoconhecimento: o lugar onde aprendes a ouvir o teu corpo, a reconhecer o que sentes e a escolher com mais intenção.
Cuidar da tua relação com a comida é cuidar de ti, por dentro e por fora.
📚 Fontes:
Harvard Health Publishing (2023)
Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP)
The Center for Mindful Eating (2022)