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Stress pós-traumático pandémico: mito ou risco real?

Um ano de medo, preocupação, distanciamento físico e quebra de rotinas. Será que todo este contexto vai deixar sequelas num futuro próximo?

Fadiga pandémica

 

Estamos todos cansados. Cansados da incerteza, das regras, das proibições, de estar longe da família, da constante adaptação, de não ter o controlo da nossa vida. São demasiadas coisas, durante demasiado tempo. Todo este cansaço vai-se acumulando e vai ficando cada vez mais difícil de gerir.

Desde há um ano que a quebra de rotinas e alteração das regras tem sido algo muito presente. Há um ano que estamos em estado de alerta permanente, e com uma sensação de insegurança constante. É tudo muito intenso e incerto, o que aumenta bastante o nível de desgaste. Este desgaste pode levar a um sentimento de indiferença, diminuição da perceção de risco e menos motivação para seguir as orientações das autoridades de saúde.

Há um ano que estamos em estado de alerta permanente, e com uma sensação de insegurança constante.

 

 

 

Aumento da procura de ajuda

 

Tem-se verificado também um aumento nos pedidos de ajuda nesta fase. Isto acontece, não só com pessoas que já estavam em terapia e notaram um retrocesso no seu processo terapêutico por exacerbação de fatores de stress, como também com pessoas que decidiram procurar ajuda pela primeira vez.

Ansiedade, depressão, insónias, alterações do comportamento alimentar e exaustão física e mental têm sido as queixas mais comuns, a par do aumento de dependências (como álcool, tabaco ou jogo).

Isto é facilitado pelo contexto limitador que todos temos vivido, que impacta negativamente na satisfação de diversas necessidades psicológicas, pela diminuição da diferenciação do espaço e do tempo de vida pessoal e académica/profissional e pela falta de treino de competências internas e pessoais, essenciais em momentos desafiantes como este.

Muitos profissionais de saúde têm também procurado apoio psicológico, devido ao enorme desgaste (físico e mental) a que têm sido sujeitos. Outros não procuram, por falta de recursos próximos, tempo ou legitimidade para tal por entre esta crise, mas as queixas acumulam-se. Prevê-se, por isso, um aumento nos pedidos de ajuda no final da crise sanitária e receia-se um número significativo de baixas e de fenómenos de presentismo pelos níveis de exaustão, física e mental, a que estes profissionais têm sido levados.

Stress pós-traumático: o que é?

 

O stress pós-traumático é uma perturbação psicológica que ocorre após se testemunhar ou vivenciar acontecimentos extremos, que colocam em risco a vida ou a integridade física de quem os vive e que, habitualmente, acontecem de forma inesperada, gerando um sentimento de impotência. A intensidade sentida é variável, e este trauma acontece devido a uma dificuldade em gerir as emoções vivenciadas.  Podemos falar de grande trauma (T) ou de pequeno trauma (t), consoante a intensidade experienciada e impacto desta vivência.

Existem alguns sintomas comuns a esta perturbação, como sonhos recorrentes ou tentativa de evitar a todo o custo estímulos/gatilhos que estejam associados à situação.

Acredita-se que esta pandemia terá um grande impacto na saúde mental num futuro próximo, em diversas faixas etárias, originando várias situações de stress pós-traumático pandémico, seja pelas experiências vivenciadas na primeira pessoa, seja por experiências observadas, seja por lutos físicos ou lutos emocionais, seja pelo isolamento prolongado no tempo, seja pela sensação de total perda de controlo.

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Como reduzir o risco de stress pós-traumático pandémico?

 

1.       Adote práticas de higiene psicológica

Alguns exemplos:

– Faça pequenos check-ups ao longo do dia que ajudem a entrar em contacto consigo: “Como me sinto hoje?” “Do que preciso agora?”

– Foque-se na sua respiração por alguns minutos.

– Tenha em atenção a forma como fala consigo. Respeite o que está a sentir e não se critique tanto.

2.       Cuide do corpo

Um corpo que recebe alimentação nutritiva, que se movimenta regularmente e que tem um descanso de qualidade é um corpo quimicamente mais estável e, portanto, mais preparado para se adaptar à adversidade.

3.       Tenha uma rotina

As rotinas são muito importantes para manter uma cadência, promover previsibilidade no organismo e respeitar os ciclos circadianos. O seu corpo e mente precisam de estabilidade. Contudo, rotinas não significam rigidez. Estabeleça uma rotina que seja confortável para si e que tenha margem de flexibilização.

4.       Doseie a esperança e o medo

É preciso dosear a esperança e o medo, para alinhar a expetativa com a realidade e permitir-se manter focado, aqui e agora. Muitas vezes, é o desalinhamento entre o que, de facto, está a acontecer, com o que gostávamos que acontecesse, que gera muitos sentimentos de frustração, quadros de ansiedade e também de alienação.

5.       Procure ajuda

Se sente que não tem recursos suficientes para lidar com tudo, procure ajuda profissional, mesmo que não esteja ainda numa situação limite. Quanto mais cedo atuar, melhor.

O stress pós-traumático pandémico é um risco real a que todos devemos estar atentos. E não, não queremos que este seja um artigo pessimista!

Queremos, sim, permitir-lhe ter informação clara e fidedigna que o ajude a adotar uma postura diária produtiva em tempos de pandemia. Lembre-se: para cada desafio, procure um recurso; para cada problema, pesquise por uma solução.

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