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Mindfulness e a compulsão alimentar

A compulsão alimentar caracteriza-se pela ingestão excessiva e descontrolada de alguns alimentos, regra geral, muito calóricos e nutricionalmente pobres, não sendo necessário sentir fome física para despoletar esta situação.

Se nota que nas últimas semanas, de forma persistente, existem momentos em que come muito rápido, em que continua a comer mesmo quando se sente saciado e até enfartado, em que opta nestas situações por comer de forma solitária (às escondidas dos outros) e em que a sensação de culpa predomina logo após estes episódios, então poderá sofrer de compulsão alimentar. Este distúrbio do comportamento alimentar, além das implicações físicas que acarreta (diabetes, colesterol elevado, problemas vasculares, alterações a nível digestivo, inflamação dos intestinos), apresenta também várias consequências psicológicas (como o desenvolvimento de quadros de depressão e o isolamento social).

‍A Compulsão Alimentar, conhecida também como Binge Eating, requer uma resposta integrada entre várias áreas da saúde física e mental.

‍Neste artigo, vou falar-lhe de Mindfulness, uma abordagem que se tem revelado bastante eficaz na intervenção em distúrbios do comportamento alimentar.

“A prática de atenção plena consiste em estar presente, conectando corpo e cérebro e prestando atenção a si (pensamentos, emoções, sensações físicas, comportamento) e ao que o rodeia (cenário envolvente, sons, cheiros), o que lhe irá permitir fazer escolhas conscientes, logo mais alinhadas consigo.”

 

 

 

MINDFULNESS: A RECEITA PARA COMBATER A COMPULSÃO ALIMENTAR

Antes de mais, é importante compreender este conceito, também conhecido como Atenção Plena. Esta prática consiste em estar presente, conectando corpo e cérebro e prestando atenção a si (pensamentos, emoções, sensações físicas, comportamento) e ao que o rodeia (cenário envolvente, sons, cheiros), o que lhe irá permitir fazer escolhas conscientes, logo mais alinhadas consigo.

Parece simples, não é? Como todas as mudanças, pode ser desafiante de implementar na prática, mas é possível, com treino consistente.

A nossa vida, com todas as exigências e obrigações, coloca-nos numa espécie de piloto automático, para conseguirmos fazer frente a todas as tarefas.

Desta forma, estamos, na maior parte das vezes, no que já passou ou lá à frente, no que ainda falta viver. Assim, ficamos com pouca disponibilidade mental para nos concentrar no “aqui e agora”, onde tudo realmente acontece.

O facto de nos desconectarmos com o presente faz com que não estejamos a prestar atenção a muitas escolhas feitas nem consigamos garantir um alinhamento entre os nossos valores e necessidades e as nossas ações. Assim, vamos perdendo o nosso equilíbrio.

A proposta do Minfulness é que desliguemos esse piloto automático em alguns momentos do nosso dia, para que possamos estar onde realmente estamos, para podermos ter consciência do que nos habita (pensamentos, emoções e sensações físicas) e assim fazermos escolhas mais ponderadas e alinhadas connosco. A hora das refeições é um dos momentos em que ganhamos em desligar esse automatismo.

Esta prática aplicada à alimentação tem o nome de Mindful Eating. Trata-se de ter consciência dos alimentos que escolhe para se nutrir, e do momento em que se alimenta. O foco deve estar em todas as sensações que sente durante o processo, aumentando assim a perceção de saciedade e de prazer a cada refeição.

Num quadro de compulsão alimentar, uma atitude Mindful pode ajudá-lo a regular melhor as suas emoções e, por consequência, a equilibrar a relação com a comida. Para preparar esta receita, irá necessidade de doses abundantes de atenção plena, flexibilidade mental, tolerância e compaixão, polvilhadas com curiosidade.

1º Ingrediente – Atenção Plena: durante dois minutos, procure pousar a sua atenção na forma como respira. Note o ar a entrar pelo nariz e o ar a sair pela boca. Investigue as áreas do corpo que se vão movendo a cada inspiração e expiração. Poderão surgir pensamentos distratores aquando desta prática. Permita-se notá-los e voltar a colocar o foco da sua atenção na respiração. Acabou de treinar a sua atenção mantida. A cada treino mental, poderá ir aumentando o tempo de observação e conexão consigo, sendo que a consistência sobrepõe-se à duração.

2º Ingrediente – Flexibilidade Mental: ao longo do seu dia, permita-se desacelerar por um ou dois minutos, ativando atenção plena na sua respiração, que pode funcionar como uma âncora. Explore então o que está a pensar, tente dar nome às emoções presentes e descreva as sensações físicas que nota. Note como são só pensamentos, emoções e sensações físicas. São legítimas mas temporárias. Convide-se a alimentar um pensamento diferente do que está presente. Para cada opinião ou leitura da realidade que fizer, desafie-se a encontrar uma segunda perspetiva. Desta forma, está a treinar a sua flexibilidade mental.

3º Ingrediente – Tolerância: num dia regular da sua vida, notará certamente alguns pensamentos negativos e algumas emoções mais desagradáveis. Permita-se ir além dos rótulos “negativo” e “desagradável”, criando espaço para aceitar que este tipo de pensamentos e emoções fazem parte, têm direito a existir e podem dar-lhe informações importantes acerca de necessidades suas. Ao invés de buscar o prazer e bem-estar permanentes, crie alguma resistência a gerir um certo nível de desconforto, de frustração, de desalento. Assim, a urgência de extinguir este mal-estar desaparecerá e ganhará capacidade para responder de forma mais adaptativa e consciente.

4º Ingrediente – Compaixão: não há pensamentos ou emoções certos e errados, há pensamentos e emoções mais ou menos agradáveis, mas todos válidos. Assim, habitue-se a lidar consigo como lidaria com uma pessoa de quem gosta muito. Antes do julgamento ou crítica, ofereça a si mesmo compreensão e gentileza. Reforce a si mesmo que um caminho de mudança faz-se com conquistas e falhas, pelo que será necessária compaixão para este processo.

5º Ingrediente – Curiosidade: mais do que convencer-se que sabe o que está a pensar ou fazer futurologia em relação à sua vida, permita-se criar espaço para explorar com abertura o aqui-e-o-agora, focando-se mais naquilo que quer que aconteça do que naquilo que não quer. Oiça-se a si mesmo e aos outros com curiosidade, numa atitude de escuta ativa. Surpreenda-se no seu dia a dia.

Neste artigo, falámos-lhe de como o mindfulness pode ser um recurso valioso no combate à compulsão alimentar. Este processo não é fácil nem imediato, mas é possível. Seja gentil e compassivo consigo. Um passo de cada vez. Vai valer a pena!

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