No artigo desta semana, deixamos-lhe algumas sugestões para começar a transformar a sua relação com a comida já a partir destas férias, rumo a uma alimentação sem culpas e com mais consciência.
No período de férias, apesar de alguns desafios que possam surgir, é naturalmente um momento em que estamos mais disponíveis e com mais tempo livre.
Pode ser uma boa oportunidade para trabalhar o seu foco, ganhar maior consciência de si e dar algum descanso ao piloto automático. Na verdade, este treino do foco é algo que deve ser feito ao longo de todo o ano, não apenas durante as férias. Vamos a isso?
Qual a ligação entre foco e alimentação?
Quando pensa em fazer alguma mudança na sua alimentação, o foco da sua atenção vai automaticamente para aquilo que tem de deixar de comer. Os doces estão proibidos, bem como os hidratos e mais uma série de ideias que categorizam os alimentos como bons e maus, certos e errados, numa estrutura rígida daquilo que se pode e não pode comer.
O efeito é totalmente contrário ao esperado: maiores níveis de stress, perante a ideia de restrição alimentar, o que leva a uma maior produção de grelina – hormona da fome – pelo organismo, levando a uma maior perda de controlo alimentar.
Além disso, a hora da refeição acontece habitualmente em piloto automático, a olhar para o telemóvel ou para a televisão, sem desfrutar verdadeiramente daquele momento, numa total desconexão consigo.
Portanto, temos foco a mais no que “não podemos” comer, e foco a menos em nós, nos nossos sentimentos, emoções e necessidades. Além disso, temos ainda muitas crenças enraizadas acerca dos nossos hábitos alimentares, que assumimos como verdades absolutas.
As crenças também condicionam a sua alimentação
No que diz respeito à alimentação, existem muitas crenças sobre alimentos e a sua relação com a comida.
Pode acreditar, por exemplo, que não sabe cozinhar, que nunca vai conseguir ter uma alimentação saudável ou que todas as comidas saborosas engordam. Pode também acreditar que o apetite é genético, ou que já tem um determinado padrão alimentar há tantos anos, que será impossível mudar.
Importa por isso identificar as suas crenças, como as encara, de onde vêm e o que elas lhe dizem. Depois, é tempo de começar, aos poucos, a desconstruí-las.
“Temos foco a mais no que “não podemos” comer, e foco a menos em nós, nos nossos sentimentos, emoções e necessidades.“
Mindful eating: mude a sua relação com a comida
Para uma mente muito habituada a estar no passado ou no futuro, pedir-lhe para ficar no presente tem os seus desafios. No entanto, é mesmo essa a proposta do mindfulness: apropriar-se do presente, para uma maior autoconsciência das suas emoções e necessidades.
Quando falamos de mindful eating – mindfulness aplicado à alimentação – falamos, não só do ato de se alimentar, mas também de:
-
Escolher e preparar os alimentos;
-
Ter uma cozinha organizada e otimizada de acordo com as suas necessidades;
-
Desfrutar verdadeiramente da sua refeição, utilizando todos os sentidos.
Neste processo de resgatar a sua relação com o agora, não existe espaço para restrições alimentares, mas para escolhas conscientes, com foco em si e naquilo que escolhe, e não no que é “errado” ou “mau”.
4 desafios para aplicar já nestas férias e melhorar a sua relação com a comida
1. Defina um objetivo
Neste primeiro ponto, a qualidade dos objetivos estabelecidos é muito importante. O que pretende realmente com esta mudança na alimentação? Grande parte das vezes, os objetivos são muito redutores – como perder x quilos – o que pode levar a um resultado insatisfatório.
Pense naquilo que o faz, realmente, querer mudar: quer ganhar energia, ter mais mobilidade, sentir-se com mais liberdade? Ligue os objetivos aos seus valores, e não a uma componente estética.
2. Desligue o piloto automático
O piloto automático pode ser bastante vantajoso em algumas situações, mas é preciso haver um equilíbrio entre o “modo fazer” e o “modo ser”. Escolhas importantes – como as alimentares – não devem ser feitas em piloto automático. Escolha uma refeição do seu dia e faça-a de forma consciente, num treino de atenção plena. Comece com uma pequena respiração abdominal, sem aparelhos eletrónicos por perto ou outros elementos distratores. Observe os alimentos, como se fosse a primeira vez que os visse. Observe as cores, o cheiro, o sabor, a textura e vá registando o que sente ao longo desta prática.
3. Faça uma lista com atividades que lhe dão prazer
A alimentação é um dos principais recursos no que toca a regular emoções. A comida ativa o nosso centro de prazer e certos alimentos ajudam na segregação de dopamina e serotonina, dois importantes neurotransmissores que aumentam os níveis de bem-estar.
Por isso, quando estamos mais cansados, frustrados e tristes, procuramos equilibrar o que sentimos através da comida. São estratégias de compensação que resultam no curto prazo, mas não são sustentáveis.
Para recorrer menos vezes à comida como forma de equilibrar emoções, propomos-lhe que crie uma lista com atividades que goste e lhe deem prazer, para que possa recorrer sempre que precisar de um boost de energia (ex. ouvir uma música, rever fotos de um momento feliz ou tomar um banho).
4. Foque-se no que escolhe
Como já vimos acima, pensar naquilo que “não pode” os nos alimentos “errados” vai ter um efeito contrário ao desejado. Por isso, propomos-lhe uma troca: deixe de lado as proibições e foque-se no seu poder de escolha. O que escolhe comer? Esta mudança na forma como olha para a alimentação vai dar-lhe uma maior perceção de liberdade, logo, menores níveis de stress.
Todas as mudanças têm os seus desafios. Por isso, não se esqueça de manter por perto a gentileza, curiosidade, paciência e empatia, porque vão ser fundamentais neste processo.